Pois é, lá fui para a confusão, no último dia da 11ª edição do festival Super Bock Super Rock...
Primeiro imprevisto, cheguei pelas 19h10, julgando que a primeira banda tinha acabado de começar, pelas 19 horas, como anunciado...
Já estavam os Slayer em palco e um amigo meu constatou-me que já tinham actuado os More Than A Thousand, Wednesday 13, Mastodon e Ramp (que tinha ouvido a parte final, ao aproximar-me do recinto).
Nota para rever, verificar mais do que uma vez o horário destes festivais... nunca é de fiar a primeira informação que lemos... à frente!
Os Slayer são um portento sonoro, a presença em palco de uma das bandas metaleiras com mais história, é segura e bem forte, mas como eu não aprecio muito o som da banda, dediquei-me a apreciar o "motor" principal deste grupo, que dá pelo nome de Dave Lombardo.
O homem faz tremer todos os que estão junto ao palco, a vibração é uma constante e as variações são excelentes.
O bombo duplo faz maravilhas e a malta aprecia.
Tom Araya foi bem simpático, dirigiu-se ao público com um sorriso sincero, de quem está a disfrutar um bom momento, inclusivamente filmou o público e o ambiente, com uma pequna câmara (para mostrar à mãe?!).
Definitivamente proporcionaram um bom espectáculo.
Alguém ainda gritava no público “gooooordos!!!”, mas é mesmo assim, os anos não perdoam.
Pouco depois, surgiram os Bunnyranch, com o seu rock frenético, de tons blues, garage e mais uma mão-cheia de estilos algo característicos dos E.U.A. mostrando os seus temas de uma forma irrepreensível, realizando uma actuação bem positiva, com Kaló sempre a animar as hostes (neste caso, para o que viria a seguir).
Iggy & The Stooges... esta foi a actuação da noite!
O sr. Iguana conseguiu mexer com toda a gente, mal subiu ao palco.
A energia de Iggy Pop é contagiosa e ver este cinquentão a saltar mais do qualquer um naquele espaço, faz-me sorrir...
Os temas desfilam perante o público rendido ao rock, puro e duro, proto-punk, rasgado e sêco, como a malta gosta...
Iggy faz a festa e chama toda a gente para o palco... os seguranças ficam malucos, travam uma multidão, deixando escapar cerca de 15 malucos, aos saltos, tal como Iggy (entre os quais, elementos de Mastodon), "No Fun" é sinónimo de festa total!
Toda a gente salta ao som de "TV Eye"...
E a festa continua com "I Wanna Be Your Dog" (com direito a encore, no tema final), o tal tema que tanta gente cantou (Sid Vicious incluído).
Os elementos dos Stooges, especialmente Ron Asheton, deliravam com a reacção do público (um novo baixista, incluído).
Iggy salta para junto do público e é abraçado junto à grade por imensos fãs na primeira fila, como que agradecendo ao vocalista, pelo espectáculo que proporcionava.
No final, Iggy estava estoirado e parecia coxear, ao mesmo tempo que corria de uma ponta à outra, do palco.
Muita gente foi lá de propósito para o ver e não ficou nada desiludida.
O rock nunca esteve tão vivo...
Os Wray Gunn tiveram a missão (ingrata) de tocar logo a seguir aos Stooges.
Voltou-se a ouvir a guitarra esgalhada, os coros blues-gospel e Paulo Furtado bem puxou pelo público, com aquele tema do “You got keep on trying...” mas era momento de converseta entre a maior parte do público (eu incluido) e muita gente virava-se para os comes & bebe (& pagas...), não havia nada a fazer.
A prestação positiva foi vista pelos ecrâns, pela maior parte da malta.
Momentos mais tarde, seguiam-se os Audioslave, num momento algo apreensivo entre o público.
Esta banda ainda não conseguiu convencer o pessoal, apesar de haver muita gente junto ao palco a vibrar com os temas do projecto (agradecendo num cartaz, pela banda ter escolhido Portugal para primeiro concerto da digressão do novo disco, que sai hoje).
A precisão e a composição das músicas deixa uma sensação no ar, que tudo é muito “limpinho”, muito certinho, bem executado é certo, mas falta alguma garra e crueza para conquistar os verdadeiros amantes do rock.
Mas, quando estava a tentar ver se conseguia mudar de opinião, se o som proporcinado pelos músicos me fazia mudar de opinião, surgem várias versões de Rage Against The Machine e de Soundgardem de rajada!
“Spoonman” e “Black Hole Sun”(em versão acústica só interpretada por Chris Cornell) intercalado com “Bulls On Parade”, “Sleep Now In The Fire e o bastante gritado “Killing In The Name”, deixam um amargo sabor de que como é possível uma banda que nas entrevistas quer demarcar-se do pesado legado que deixou nas bandas anteriores e quer ter uma identidade própria, faz uma cena destas.
O público apludiu e gritou, como em nenhuma música dos Audioslave, mas deixa uma questão no ar, qual será o futuro imediato desta banda...
De registar, a má voz do (excelente) vocalista durante quase todo o concerto, mas segundo me pareceu (contrariamente à primeira impressão de rouquidão), era devida à má captação do microfone (seria por Iggy Pop o ter lançado umas 20 vezes para o chão?).
Mais um momento de pausa surgiu e quando as hostes se refastelavam (esta palavra existe?) entre mais uma cervejola ou um cachorro, surgem os Blind Zero em palco.
Sei que não é gracioso dizer isto, mas esta banda nunca me convenceu.
Sei também que se demarcaram do estigma Pearl Jam, que actualmente têm uma linha bem personalizada, mas definitivamente não me convence.
Pouco ou nada, prestei atenção, passados os 5 minutos iniciais da actuação.
E para final da noite, estava reservada a performance mais teatral da noite.
Mr. Marilyn Manson e seus androgeno-oxigenado-esquisito-muchachos estavam de volta, mais uma vez ao nosso país (já lá vão 5 vezes, Portugal figura no mapa mundial do americano).
A longa espera que proporcionou (truque já bem utilizado pelo anti-cristo) deixa o pessoal num frenesim inquietante.
Um pano gigante ocupa todo o palco e ouve-se uma música instrumental, que sem saber exactamente o que é, arriscaria numas versões de cordas de temas da banda (que poderiam ser tanto de uns Apocalyptica, como de uns Royal Philarmonic Orchestra).
Vislumbra-se uma luz, no meio de um nevoeiro denso causado pelos fumos de palco...
Aí vem “a besta” com um candelabro, tipo ermita perdido na noite.
Explode o som nas colunas, cai o pano e começa o som debitante do rock industrial, tão poderoso como a fama do tão famigerado personagem criado por Brian Warner.
Muita gente vibra e aplaude tema após tema, cenário após cenário do universo de Marilyn Manson, como se tratasse de um papa, dum ditador ou de um líder de massas.
As expressões teatrais ganham mais sentido, tema após tema.
Excelente pormenor do teclista, sempre activo com o seu instrumento apoiado numa forca de aspecto bem real, feita de madeira.
De realçar um novo guitarrista que substituiu John 5, que cumpriu bem a sua função, embora Manson não dê espaço para grandes protagonismos, para além do dele.
Os temas vão desfilando, com descargas industriais, alternando com as versões dos Depeche (arghhhh) Mode a fazer o público cantar bem alto, deixando Manson de vocalizar e puxar pelo pessoal, garantindo assim a conquista de mais um “terreno”, para o seu portfólio pessoal.
Seguem-se os habituais momentos com a queda de milhares de papelinhos, encenações várias e (algumas) palavras dirigidas para o público português.
O concerto termina com a pose de ditador, em cima dum palanque, que (vi eu) tardou em surgir em palco, com Marilyn Manson a esbracejar com os roadies, naquela do “esta merda já devia de lá estar”, num canto discreto do palco.
Rendido, o público percebeu que mais um acto tinha terminado e que o anti-cristo terminava a sua actuação.
Profissional quanto baste, envolvente e absorvente, mas acima de tudo, boa música para quem gosta de rock industrial.
Nunca vi um mau espectáculo de MM e este não foi excepção...
Para concluir, realço vários aspectos da logística, tão contestada o ano passado (por mim, inclusive).
Positivamente, o cartaz virado directamente para o rock, houve comida, bebida e diversões variadas em grande quantidade, deixando de lado as filas intermináveis do ano anterior.
Negativamente, realço a consecutiva sequência de actuações, algumas vezes mal deixando uma banda de terminar, seguiu-se logo a seguinte (tipo, um minuto) e ainda a muito discreta localização da bilheteira na entrada. Como seria de esperar, há sempre gente que compra os bilhetes em cima da hora e para além de não se ver à partida, nem tinham Multibanco (pela Europa fora, os festivais têm até cartão de crédito, mas cá...), tivemos que emprestar momentaneamente dinheiro uns aos outros,para comprar o bendito bilhete...
Outro aspecto negativo e de grande referência diz respeito ao preço dos bilhetes, houve muita gente que até dava lá um salto, para ver uma ou duas bandas, mas com estes preços, não sei onde vamos parar...
Ah, e claro, o mau sabor da cerveja...
Mas para concluir mesmo, mereceu a pena ter ido este ano a este festival...