O Billy News (para além de lhe dar os parabéns), desafiou-o a responder a três questões sobre o passado e também sobre o presente... o futuro já se sabe... não há!
Vejamos o que ele nos respondeu...
Billy - Em Lisboa, acompanhaste algumas fases do pessoal ligado a bandas punk e a todo o espírito e ambiente envolvente, na década de 1980. Que memórias guardas dessa altura?
Gonçalo – memórias? Bem para já lembro-me que perdi parte da memória, devido ao efeito do bagaço e rohypnol e mais tarde as duras, mas claro que me lembro de muita coisa e passei bons momentos, talvez os melhores, era um delírio, como dizes eu dava-me com o pessoal das bandas quase todas, vivia em Alvalade que onde nasceram grandes bandas, peço desculpa ao pessoal de Linda-a-Velha mas foi em Alvalade que começou tudo, hehehe, principalmente com os kú de judas, depois siga pró bairro alto onde todos se encontravam e onde todos se conheciam, convivia-se também com billys, skins (primeiro andávamos a chapada com eles e acaba-se a noite a beber copos juntos) etc., mas apesar de o punk ser um movimento supostamente de mente aberta os tugas importaram-no e aplicaram-lhe uma camada nojenta que faz parte da sua essência, ou seja a mesquinhice, as pequenez das ideias, a intriga, inveja, e depressa se tornaram tão preconceituosos como aqueles que criticavam, Lisboa era uma cidade ainda mais provinciana do que é hoje, não havia muito espaço para ideias novas, quem as tinha, ou tinha personalidade para as manter ou era engolido e calado pelos ditos preconceitos, mas havia gente boa e evoluída, e desses guardo boas recordações e mantenho amizade.
O bairro também perdeu muito da sua pureza original em que convivia-mos alegremente com os indígenas (putas e chulos) quando os xutos, penso que foi o zé pedro para variar, se lembraram de dar uma entrevista ao SE7E a nomear todos os sítios onde paravam à noite e claro lá nos invadiram o gingão e o resto com aquela espécie de gente que tem por habito andar com os braços em cruz, depois os peste deram mais uma ajuda com o tema “Gingão” mas a merda já estava feita, teve um aspecto positivo, havia imensas miúdas carentes de ter uma relação mais intima com um punk, que para elas devia ser um bicho estranho e claro q a gente aproveitou…
Quanto ao aspecto musical da coisa, claro que comecei com os xutos, e só depois é que veio o punk a sério e devido ao sitio onde morava foram os ensaios de kú de judas que me abriram os olhos, mas a primeira banda a ver ao vivo foram os resistentes Mata-Ratos, e depois começou a série de concertos ainda na Teia, seguida do RRV, Comuna, Palmeiras, Bar Oceano, etc., onde conheci o resto das bandas, mas a que mais me impressionou na altura foram os Crise Total, pela mensagem, pelo som, e pelo Malono, grande amigo, depois veio a vaga do crossover, e aí claro a melhor recordação que guardo, e reconheço que sou suspeito, foram os N.A.M. do Ricardo, mas tb é natural nós os dois ouvimos sempre o mesmo som durante a nossa vida, ou melhor eu ouvia o que ele me mostrava…
Quero também acrescentar um eterno obrigado ao António Sérgio, por me ter aberto os ouvidos e a toda uma geração!
GONÇALO (1984)
Billy - Tu és primo do falecido Tenro, saudoso para muita gente. De uma forma geral, como é que podes descrever o seu perfil?
Gonçalo – dizes bem, SOU primo do tenro, e responder a esta pergunta é doloroso, mas por outro lado é uma boa oportunidade de falar dele, por isso siga…
O Ricardo tinha um lado que quem o conhecia mal era o que mais se evidenciava que era o do puto rebelde, sempre pronto para fazer as cenas mais maradas, violento, etc., mas quem o conheceu bem, e eu vivia por baixo dele, e sempre fui o seu familiar preferido, sabia que ele era extremamente inteligente, com uma perspicácia e curiosidade fora do normal, ele não tinha muitos livros em casa por exemplo então descia e ia buscar ao meu quarto, levava livros, BD’s, enfim tudo o que apanhava a mão e embora tivesse deixado a escola cedo, era a prova viva que a escola nos serve de pouco, tinha uma capacidade de analise do que observava excelente, discutíamos bués as cenas e ele tinha sempre algo de bom a acrescentar, dava-se com qualquer pessoa desde o pedinte da rua, ao chaval mais betinho, eu aprendi guitarra antes dele mas depressa me ultrapassou, eu tive aulas de piano ele ia lá a seguir eu ensinava-lhe e ele aprendia logo, era uma pessoa muito cativante, carismática mesmo, daí as saudades que deixou em muita gente.
é sempre de lamentar a morte de um puto de 23 anos, mas no caso dele apanho-o na fase em que ele estava a amadurecer, a conseguir algumas coisas com que sempre tinha sonhado, fazer algo de bom em musica por exemplo, eu sei que ele tinha muito mais para dar, filho da puta do cabrão que lhe espetou uma faca no coração!!!
Muita gente perdeu um amigo, uma referência, eu perdi isso mas perdi tb um pai, um irmão e um filho, e por isso a minha resposta fica por aqui, até porque nem sei bem como responder a isto de forma racional.
Há uma pessoa que eu espero que se lembre bem dele, um cabrão de um bófia que me estava a dar com o cassetete no pelo e o tenro chegou ao pé dele e deu-lhe um murro nas trombas que ele teve de ir buscar o boné bem longe…
RICARDO 'TENRO'
Billy- Actualmente ainda te interessas pelo fenómeno punk? Ainda te manténs actualizado sobre o que se vai passando, ou nem por isso?
Gonçalo – para mim o punk nunca fez tanto sentido como agora, a música, sim faz-se boa musica punk ainda hoje, não a que se ouve nas rádios claro, os ideais, a anarkia para mim é cada vez mais importante. Em Portugal claro que me tocam mais as bandas antigas como os Mata-Ratos o ressurgimento dos Crise Total e os projectos do meu irmão Ribas, mas também vejo muita coisa boa a aparecer e a inovar, e é isso que eu gosto do punk não é uma cultura estática como os palermas do flower power, é dinâmica sempre em mutação, sem regras, sempre com o espírito d.i.y.!
E que maior prazer chegar aos 39 anos e poder ouvir o que me apetece, dizer o que me apetece.
Com o aparecimento da internet temos o mundo na mão, não nos censuram, podemos berrar sem ter medo de levar uma chapada da bófia, podemos viver como um ermita, o meu caso, e estar em contacto com punks de todo o mundo, temos acesso à informação como não tínhamos em 80, o teu blog é um excelente exemplo disso, mas parando com a graxa se bem te lembras só sabia-mos as novidades pelos kámons que paravam por cá ou por um de nós que fazia uma viagem pela Europa, agora népia disso, é muito mais fácil ser punk, apesar de vivermos numa democracia completamente falsa.
Bom post!
ResponderEliminarÉ sempre agradável poder ler entrevistas como esta.
Saúde
nao percebo nada de comentarios de blogs LOLOL
ResponderEliminarsempre a mesma merda porra
olha vim dar te os parabes mesmo atrasados mas sei que fizeste e olha que tenho saudades tuas ruindade da cabrita fodasse!
um beijo gigante pa ti!!!!:DDD
espero k teja tudo bem ouviste?;)
cata
Antes de mais, meu primo irmão, desculpa n te ter dado os parabéns. Todos os anos falho. Tu não.
ResponderEliminarDo Ricardo, lembro-me que era um grande bacano.
De ti: sei que és boa pessoa, um amigo para sempre. E tens duas filhas maravilhosas.
Um abração deste eterno amigo betinho. Parabéns! Viva o Punk!
Bom post.
ResponderEliminarSó soube agora que fazias anos..
De qualquer forma, parabéns e um abraço! ;)
Nem sabia que fazias anos Gonçalo. Parabéns!! Quanto à entrevista, espetacular! É bom ler coisas destas ehehe. Só não gostei da parte em que simpatiza com skins!
ResponderEliminarAbraço!
mentes podres, sobre os skins, para já há vários tipos de skins e depois mesmo dentro dos considerados piores há boas pessoas como em todo o lado, o meu espirito anarka nao me permite julga-los pelos seus ideais, como espero que eles nao me julguem pelos meus...
ResponderEliminarAproveito tb neste dia sexta 13, uiiiiiiiiiiiii, para dar os parabens ao Salema, personagem que requentou os mesmos meios que eu e por lá continua, e com muito mais importancia para todo o ambiente tribal do que eu
ResponderEliminaro ricardo também era meu primo direito! estava à procura da foto dele no livro dos xutos mas foi bom encomtrar esta entrevista! obrg rita
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