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domingo, julho 19, 2009

Mata-Ratos – entrevista



A banda punk portuguesa que mais anos tem de actividade ininterrupta (salvo vários momentos, em ‘hibernação momentânea’ devido às constantes alterações da sua formação), está de volta.

E para quem pôde constatar ao vivo, inequivocamente em força!

Após integrarem um novo guitarrista (Pedro Charneca) e o prepararem devidamente, lançaram-se ‘de cabeça’ ao que mais gostam de fazer... actuar ao vivo.

Num excelente regresso em Março deste ano (após paragem de concertos ao longo de alguns meses) em que tiveram no In Live Caffé da Moita com a sala completamente esgotada, seguiram-se várias actuações pelo país fora, com efusivas prestações.

É sobre este regresso que o Billy News quis abordar o vocalista Miguel Newton, a ‘face visível’ desta banda que se recusa a ‘baixar armas’, desde a sua formação, em 1981.





Billy– O regresso na Moita foi quanto a mim o melhor possível, com uma boa prestação em palco e especialmente porque mais ninguém conseguia entrar na sala. O calor foi arrasador, especialmente com a movimentação do público, mas o facto de muita gente não querer perder este regresso (o motivo principal), foi bastante motivador. Concordas com esta ideia?


Miguel Newton- sim, plenamente, mas certamente ninguém tinha mais “sede” do que nós para ver os Mata-Ratos a tomar de assalto as tascas. A ausência de um palco, de mais uma festa tribal, é para nós semelhante à falta de heroína para um carocho, choramos baba e ranho por mais uma dose. Não necessitamos de grande motivação para levar a infâmia aonde ela é precisa mas constatar que fazemos alguma falta a alguém só pode aumentar a nossa já elevada vontade de demência.



Billy- Nos concertos seguintes, conseguiram maior entrosamento, especialmente com o novo guitarrista? Foi fácil a integração deste novo elemento?


Miguel Newton- Quando o Tiago (Arlock) Dias deixou de fazer parte da banda pareceu-nos uma tarefa espinhosa conseguir um substituto à altura dado o nível de amizade e confiança a que tínhamos chegado. Fizemos audições e estávamos a ver a coisa mal parada mas quando apareceu o Pedro vimos a luz ao fundo do túnel. A empatia foi imediata e a amizade começa a cimentar-se muito rapidamente pois além de guitarrista excepcional é uma pessoa 5 estrelas.



Billy- Têm conseguido alguma regularidade de actuações, ou seja, uma clara aceitação da sonoridade da banda por parte de quem promove eventos. Uma das ‘surpresas’ ao longo dos últimos anos tem sido a participação em festivais de hard’n’heavy. Sei que obtiveram reacções positivas, em alguns até bastante efusivas chegando a ser considerados como uma das melhores bandas do cartaz. Podes-me dizer algo sobre isso?


Miguel Newton- Não são os discos que já lançamos, as polémicas que causamos, os amores e ódios que suscitamos ou as décadas que por cá andamos a partir cascalho que revelam a nossa influência no panorama musical português. Tudo isso é folclore, o que importa é o resto: as pessoas que conhecemos nos concertos, de quem não fugimos nem nos escondemos, que nos revelam qual o papel da nossa música; os episódios marcantes das suas vidas, por vezes trágicos por vezes cómicos, a ela ligados; os músicos e bandas que começaram por tocar temas nossos, alguns que decidiram formar bandas após ouvirem Mata-Ratos; a transmissão do amor pela nossa infâmia de pais para filhos, entre irmãos, entre gerações. Tudo isso nos confunde e enche de alegria e orgulho comedido. Haverá sempre quem nos considere básicos, superficiais, desprovidos de conteúdo e profundidade. Ainda bem que assim é, apoiamos a 100% a discórdia que causamos, pois se agradássemos a muita gente algo de errado estaríamos certamente a fazer. Tudo isto apenas para dizer que tal como “penetramos” várias gerações também não somos travados por barreiras musicais artificiais. Quem gosta de metal pode sem qualquer pudor gostar de Mata-Ratos tal como quem gosta de vinho também vira três copos de bagaço sem piscar um olho. Há quem ouça hip-hop e goste de Mata-Ratos, é algo que não nos choca nem estranhamos. Quem começou a ouvir-nos de tenra idade pode avançar para outro tipo de sonoridades mas nunca terá vergonha de confessar que Mata-Ratos é que partem a loiça toda. As pessoas tentam apenas retribuir um pouco daquilo que lhes temos dado. Agradecemos. Não somos a melhor das bandas mas temos certamente o melhor dos públicos.



Billy- A vossa edição do disco-duplo ao vivo foi excelente, na minha opinião trouxe pujança a alguns hinos da banda. O vosso último trabalho “Novos Hinos...” saiu em finais de 2007, quanto a mim é um excelente disco, talvez um dos melhores trabalhos de sempre dos Mata-Ratos. Apesar disso, pareceu-me que ‘passou ao lado’ de muita gente. Tens essa perspectiva ou pelo contrário, obtiveste um considerável feedback?


Miguel Newton- A industria discográfica, como é certo e sabido, está mais moribunda do que um esquimó com peste suína e o investimento na divulgação é consequentemente mais reduzido. As bandas e os seus discos obedecem ás leis do mercado e são vendidos consoante o que neles se invista em Marketing. Sem taco a mensagem não passa. Neste aspecto – bandas e música - não são diferentes de papel higiénico ou o champô para a caspa com que nos bombardeiam na televisão. Mas, sempre contentes da vida, não somos pessoas para nos queixar e damo-nos por felizes que haja alguém que aposte em nos. Quem ouviu o disco e nos aborda sobre o assunto dá-nos sempre feedback positivo mas é sempre suspeito já que nunca sabemos se não terão é medo de dizer mal à espera que lhes espetemos com uma barra de ferro na pinha. Mas como muitos loucos aparecem nos concertos e cantam os novos temas a plenos pulmões as coisas parecem-me sempre bem encaminhadas. Os CD’s também vendem bem nos concertos. De qualquer modo não temos a ambição de chegar mais longe. Os discos são apenas um meio de obtermos o que queremos: cerveja à paleta e palcos para conspurcar.



Billy- A vasta discografia da banda fala por si, são cerca de 20 edições divididas em ‘demos’, EP’s’, álbuns e participações em compilações. Apesar disso, nunca obtiveram uma visibilidade próxima do famigerado “Rock Radiactivo” (editado em 1990, que na altura atingiu o 6º lugar no Top de Vendas Nacional). Em termos gerais, não te preocupa que sejam apelidados de uma ‘banda de hinos’, mas apenas com temas soltos (por álbum) a ficar na memória do pessoal?


Miguel Newton- Não tenho preocupações desse ou doutro estilo. Não vejo mal em sermos apelidados de “banda de hinos” já que o mais normal é apelidarem-nos de “porcos nazis” ou algo do género. Nunca conseguiremos tocar todos os temas que nos pedem durante os concertos e há pedidos que são mesmo estranhos e raros pelo que os outros temas não passam assim tão ao lado do pessoal. Há sempre um tema que é por algum motivo um hino para alguém. Já há quem tenha escolhido um tema de Mata-Ratos para sua introdução num combate de um campeonato de Jiu Jitsu. Por certo chegará o dia em que um casal dirá: “Querida estão a passar a nossa música, o “Juntos Para Sempre” dos Mata-Ratos! Por isso acho que todos os nossos temas são e serão sempre hinos. Há quem conhece letras de álbuns de fio a pavio e não sou certamente eu que tenho a tendência a ficar com os neurónios entorpecidos pelas brumas etílicas da memória. O “Rock Radioactivo” vendeu o que vendeu e chegou aonde chegou graças ao poder e marketing de uma editora. Nesse aspecto não difere muito do detergente que lava as nódoas mais entranhadas. Agradecemos o empurrão mas há que regressar à clandestinidade e seguir em frente.



Billy- Têm alguns temas novos finalizados? Planeiam apresentá-los ao vivo brevemente e há alguma ideia para um eventual lançamento de novo álbum?


Miguel Newton- Não somos profissionais da música pelo que o tempo que despendemos em ensaios não é muito alargado. Acresce que quando há concertos temos que parar e perder algum desse precioso tempo a ensaiar o set a tocar. Mas está tudo a correr mais depressa do que era expectável. O Pedro está a trazer-nos novos temas que são do agrado geral e se estão a aninhar confortavelmente nos nossos neurónios. Neste momento já temos três “fresquinhos” e prontos para entrar em acção: “Onde Estavas no 25 de Abril?”, “Venha outro Santo” e “Fora do Baralho”. É previsível que em breve venham a ser integrados no set ao vivo pois é o nosso procedimento normal para que não fiquem em pousio pelas pausas trazidas pelos concertos. Contamos gravar dois deles rapidamente para lançar um split 7” vinil com uma banda de fora.



Billy- Nos próximos três meses os Mata-Ratos têm confirmadas actuações em Guimarães, Cartaxo, Évora, Tomar e Lisboa, o que para ‘meses de verão’ é bastante positivo. Há mais datas pré-agendadas, em diferentes zonas do país?


Miguel Newton- Há já outras datas em cima da mesa mas prefiro não falar nelas porque muitas vezes acabam por não se concretizar.



Billy- Obrigado pela entrevista. Alguma mensagem especial para os fãs da banda, que ainda se mantêm ferverosos em 2009?


Miguel Newton- Não será exagero dizer que sem vocês não somos nada. Vocês fazem a Festa Tribal e nos providenciamos a banda sonora. Não dêem de beber aos animais!





Neste momento, os Mata-Ratos são Miguel Newton (na voz), Lemmy Jackson (no Baixo), Ricardo Viagra (na Bateria), Pedro Charneca (na guitarra) e Xico Pequeno (como convidado no Saxofone).

Podem obter informações sobre as próximas actuações, bem como detalhes sobre a banda acedendo a...

http://www.myspace.com/mataratos1982




5 comentários:

  1. quando é que vão tocar os novos temas?

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  2. Vão tocar a Lisboa? Onde?

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  3. No Tattoo Rock Fest a 19 Setembro. Sala Tejo do Pavilhão Atlantico

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  4. *******************


    Exacto, a actuação é integrada no Tattoo Rock Fest...

    Mas podem obter muito mais informação sobre a banda no link do myspace (indicado no final da entrevista), inclusive as datas confirmadas nos vários pontos do país.


    *******************

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