Inesquecível!
É palavra que mais me ocorre na mente, para descrever o evento realizado no passado dia 6 de Dezembro em Wakefield, cidade inglesa a norte do país (a cerca de uma hora de comboio de Manchester).
O motivo principal foi o de juntar amigos em palco e ao mesmo tempo, angariar dinheiro para uma instituição local, a MacMillan Cancer Support.
O principal organizador foi o baixista dos Abrasive Wheels, Chris Bertram que foi manifestamente saudado por todas as bandas em palco. Daí a participação das bandas com um carácter de amizade e de ajuda neste evento especial.
A sala (bem) escolhida foi o Warehouse 23, espaço a fazer lembrar o nosso Paradise Garage.
As bandas do cartaz, foram um precioso lote para quem aprecia punk rock britânico.
Mal se chegava ao local, junto à porta, o ambiente já era de muita conversa e convívio, de copo na mão.
O que saltava logo à vista, era a excelente organização na entrada, com uma ampla sala intermédia com zona para fumadores, bebidas de garrafa de vidro e acessos às casas de banho.
Tinha acabado de começar a primeira banda (dica de um desconhecido punk inglês, logo na rua, «chegaram a tempo, começou mesmo agora»).
O tempo estipulado de actuação das bandas variava entre os 30 e os 50 minutos.
Um pormenor desde o início, a voz do técnico de som a ouvir-se no palco (para as bandas) com o tempo que têm disponível. A própria banda geria os temas perante as dicas. Uma organização incrível, difícil de ver por cá.
20 minutos de intervalo para mudanças de palco, cronometradas.
Outro pormenor excelente: a qualidade do som. Tudo muito perceptível, ´culpa` com certeza de que quem conhece bem as bandas que vai ter pela frente.
Ainda com a capacidade a meia sala, pelas 14h30, os Hospital Food arrancaram bem. Trata-se de um trio de punk rock acelerado e com uma boa prestação, serviu para aquecer os presentes. Característica principal, a explicação dos temas, antes de começarem. Terminaram com um tema anti-Manchester United, felizmente com poucos (ou nenhuns) entusiastas desse clube, presentes.
Logo depois, chegam The Krayons, miúdos novos com uma sonoridade punk/hardcore, muito acelerada (o baterista parecia uma metralhadora). Fugia um pouco ao âmbito geral das bandas do cartaz, mas foi muito bem recebida pelo público que ia enchendo cada vez mais a sala. No final houve mesmo uma procura de material da banda, no espaço de merchandising mas ainda não têm nada gravado em registo, ou seja, penso que se trata de uma banda muito recente.
Sickpig ajudaram a aquecer ainda mais o ambiente, com um publico bastante atento. Praticam uma sonoridade anarchopunk (baixo e bateria) digamos mais actualizada, com um sentido hardcore e riffs metal. Com um vocalista muito expressivo e coros femininos (da baixista), mesmo sem grande frenesim, deram um bom concerto.
Os Dogflesh tiveram a maior prestação, em termos de duração. Banda antiga do Reino Unido (penso que só com o vocalista original, Rob Moore), apesar de bastante alegres em palco, a mescla da sonoridade (rock/punk/metal) não entusiasmou muito e foi um pouco cansativo devido exactamente a esse prolongamento em palco (cerca de 50 minutos). Tiveram tempo ainda para tocar um tema dos Exploited, uma das inspirações de sempre, da banda.
E eis que chega a primeira banda que mete tudo a mexer no Warehouse 23! Trata-se dos Sick On The Bus, a banda de dois Varukers (guitarrista e baixista) com Biff a liderar as vocalizações. Punk rock simples e directo, ´gritado`e sem floreados. Muita boa prestação, com Biff extremamente bem disposto, com as suas caretas habituais e sorriso de orelha a orelha. A sala já estava cheia e os punks de crista voavam nas primeiras filas, com o público em reboliço até lá atrás. Muito bom!
Quando os Drongos For Europe actuaram (que substituíram no cartaz a banda Hung Like Hanratty) já estava a festa instalada. Com sala cheíssima, foi fácil conquistarem o público que entoava bem alto os refrões dos temas. Punk Party era o mote e terminaram com imensos aplausos e com o público a pedir mais (mas lá está, com uma organização imaculada, tudo foi seguindo normalmente, sem alterações).
E eis que chega uma das bandas que mais aguardava, Abrasive Wheels! Com uma entrada algo lenta (apenas com bateria e uns solos de guitarra), deixaram no ar se iriam interpretar os grande clássicos da banda de Leeds que se formou em 1976. Mas sim, a festa fez-se minutos depois com os grandes temas da banda e com o vocalista Phil "Shonna" Rzonca muito bem disposto e extremamente activo (apesar da idade algo avançada). Os jovens guitarrista e baterista estavam perfeitamente em sintonia e o baixista Chris (que se juntou à banda antes de "Skum" de 2009) a segurar o ritmo com uma linha de baixo pujante. Temas como "Burn ´em Down", "Class Of 82" e "Vicious Circle" meteram tudo em alvoroço. Terminaram com o clássico "When The Punks Go Marchin´In", com todos a cantarem bem alto. Ficaram de fora "Christianne" e muitos do álbum «Skum», optaram pelas faixas mais antigas, o que ajudou muito ao ambiente. No fim, ainda distribuíram t-shirts da banda pelo público.
Nesta altura, o calor era muito e as faces das pessoas não enganavam. Dava-se uma volta pelo merchandising, onde algumas companheiras de membros de bandas, estavam instaladas com outras roupas (não alusivas a bandas, mas muito chamativas) e ia-se ao bar onde raramente se esperava mais de um ou dois minutos pelas bebidas.
Dá-se em palco um sorteio, após venda (considerável, diga-se) de senhas numeradas pelo público para angariar dinheiro extra para a instituição, com a oferta de material das bandas do cartaz, desde t-shirts a discos.
Pouco depois, chegam os Varukers com um power e energia inigualáveis. Rat, igual a si próprio, ia apresentando os temas e tinha uma entrega em palco invejável. Deu-se um pequeno fenómeno, com o público repartido em duas partes, as filas da frente num frenesim incrível e metade dos presentes algo resguardados mais atrás e demasiado quietos. Afinal tratava-se de muita gente acima dos 50 anos de idade e com apetência mais para o punk rock de 77 do que para cruzamentos de sonoridades (penso eu, que seria o principal motivo), mas sempre muito atentos ao que ia decorrendo. Sem o baterista Ricardo, agora com Stick (penso que dos Doom), não davam tréguas, os temas iam-se seguindo sem grandes paragens. Terminam a actuação com "Soldier Boy", depois de uma barreira sonora digna de uma batalha campal.
Seguiram-se os English Dogs, aguardados por muitos dos presentes. Desfilaram os temas antigos, da fase inicial da banda (que terminou por volta de 1984, seguindo a outra banda punk/metal que conhecemos com Gizz Butt), sempre com um grande espírito. O vocalista está sempre animadíssimo, ora a puxar pelo público, ora com diversas caretas de quem está a divertir-se. "Psycho Killer" foi arrebatador. Muitas palmas no final duma prestação forte.
Por fim, a fechar a noite estiveram os grandes Peter & The Test Tube Babies. Não podia ter sido melhor. Festa do primeiro ao último minuto, com os grandes clássicos a serem entoados em viva voz por todos os presentes. A cara do vocalista era sinónimo do ambiente ali vivido, sempre a sorrir com um ar de miúdo malandro, a deixar o publico cantar certas partes dos temas. Não tocaram nenhuma versão (uma das marcas da banda), apenas os grandes hinos dos PTTB. "Maniac", "Banned From The Pubs", "Up Your Arse", "Moped Lads", "No Invitation" e muitos outros, foram aclamados vivamente pelo público que por vezes ia passando o microfone que estava longe do palco. Terminaram ao fim de quase uma hora, mas com o organizador a pedir ao público por mais, ao que corresponderam com mais dois temas.
No final, pouco depois da meia-noite, estava tudo em êxtase, com as bandas envolvidas com público, muita conversa, muita cerveja e muito calor.
Com cerca de 400 pessoas presentes (sem certeza do número certo), conseguiu-se reunir uma bela quantia para a instituição e com uma certeza já garantida:
Para o ano que vem, há novamente evento semelhante...
Official. We raised £1557.68p for the Mcmillan nurses last Saturday. Thank you all.
Same time next year at the warehouse 23 club.
Same time next year at the warehouse 23 club.
Abrasive Wheels
Por fim, reforço que o ambiente era incrível, com o pessoal muito bem disposto e especialmente muito civilizado (até se estranhava).
Toda a gente segurava as portas do acesso à sala para quem vinha atrás, a incerteza de se deixar bebidas ou roupa ao longe desfazia-se logo, muita curiosidade dos ingleses por saber detalhes de onde vínhamos, que bandas tínhamos gostado mais, um espírito muito salutar.
Muito havia ainda para escrever e descrever todo o ambiente vivido... (e depois dos concertos, a noite não ficou por ali).
Mas ao regressar a Portugal, já sabia... ia ficar com muitas imagens deste evento, gravadas na minha memória, para sempre.
Wakefield, Warehouse 23 em 2015...?
(fotos e vídeos retirados da página dos Abrasive Wheels e das bandas do cartaz)
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