Os Gazua já se formaram há algum tempo, desde os primórdios em 2003 com Fred (ex-Censurados) no baixo, que têm difundido a sua sonoridade com maior ou menor actividade ao vivo, um pouco por todo o país. “Convocação” é oficialmente o primeiro álbum e marca exactamente uma altura em que a banda está coesa com um ‘line-up’ constante e bem oleado.
João Morais (ex-Corrosão Caótica e Carbon H), mentor e principal compositor dos temas está muito bem acompanhado por Paulinho (M.A.D., Kamones) e por Quim (ex-Civic e Condenação Pacífica), ou seja, pessoal já experiente em andanças de palco e ‘estrada’ que conhece bem o meio musical nacional...
Mal se ouve os primeiros segundos do disco, um detalhe salta à vista (ou aliás aos ouvidos), a produção do álbum está bem acima da média, especialmente para um trabalho lançado em ‘edição de autor’, ou seja, auto-financiado.
A distinção entre as vozes, guitarras e bateria é notória e nem os coros abafam os ritmos e melodia dos próprios temas... tudo é perfeitamente perceptível.
É excelente ouvirmos uma gravação com esta qualidade e hoje em dia sabemos que o punk ‘não pode ser mal tocado’, ao contrário das permissivas de ’77, detalhe resultante da chamada evolução da própria música, pormenor não só observado em Portugal mas a nível mundial.
Quanto ao disco, abre excelentemente com “Se Tens Vontade De Gritar”, punk rock corrido cheio de ritmo e com as letras do tema em discurso directo (aliás, essa é uma característica de todo o álbum). Os ritmos cativam por si e facilmente nos deixamos levar ao sabor das guitarras...
“Morres Devagar” vem de seguida com grande balanço rock em tom menos speedado, mas com acordes musculados a marcar compasso...
“Fazia Tudo Outra Vez” é definitivamente o melhor tema de ‘Convocação’ e as razões são muitas. Um grande ritmo de guitarra e baixo marcado pela bateria, embebido numa letra extremamente apelativa e cheia de significado, que nos faz pensar em alguns pormenores da nossa vida (facilmente lá se chega, basta ouvi-lo e não, não estou definitivamente a ser ‘sentimental’).
«...eu quebrava a tradição e quando lembro o que se fez, eu fazia tudo outra vez...». Poderoso.
Logo depois, vem o acelerado “Evolução”, tema declaradamente punk rock que apela verdadeiramente ao slam-dance e à agitação, as letras retractam um pensamento sobre a Revolução de Abril e o estado actual do país. As guitarras não dão descanso e fustigam desenfreadamente. Tema brilhante, com ritmos rapidíssimos que nos deixa um sorriso na cara...
“Sair Da Escuridão” faz-me lembrar os Xutos a nível lírico, traz uma mensagem não tão directa, mais elaborada, com detalhes e significados que poderão despoletar diferentes pensamentos em momentos distintos ou quando ouvimos numa segunda audição.
“O Que É Que Estás Aqui A Fazer” coloca uma mensagem no ar para cada um ‘absorver’ à sua maneira. A guitarra assume o controle do tema com solos electrizantes sem serem demasiado enfadonhos. É um desafiante confronto pessoal, colocado a qualquer um de nós.
“Mil Dedos” é outro grande tema dos disco, balanceado e sem grande speed, a música agarra-nos de uma maneira especial, traz-nos à memória ritmos de uns Xutos (aqui ainda mais, dos primeiros anos) ou mesmo dos saudosos Censurados. Mas com um toque de actualidade a nível musical irrepreensível.
“Freneticamente Falando” é definitivamente outro dos melhores temas do disco, uma excelente surpresa com João Pedro Almendra (Peste & Sida) a dar voz e alma a uma música que só apela à dança e agitação. Impossível ouvir este tema sem ter vontade de levantar e saltar, feito louco, ‘com os braços descontrolados e dançar até ficar com os pêlos arrepiados...’
O ritmo é incrivelmente contagiante e notoriamente o vocalista convidado faz com que o tema pareça ‘roubado’ aos Peste, embora não haja nenhum sequer semelhante para o paralelismo.
«...no meio de tanta gente, tanto stress, será que ainda aí alguém que ainda se interesse?» grita Almendra.
“Punição” é mais uma guitarrada forte com um incrível ‘martelanço’ de Quim, como quem quer acordar os vizinhos numa madrugada de domingo. Os coros apelativos enchem ainda mais os ritmos que descontroladamente nos levam para um precipício... tema forte, sem dúvida!
O álbum termina com “Vou Explodir”, este tema é a ‘marca’ dos Gazua.
Com uma atitude de quem sabe o que diz (e esta banda tem algo para transmitir, mesmo), com o sangue a ferver de quem sente o que canta e com uma seriedade genuína.
Esta aliás, é uma característica dos Gazua, músicas plenas de guitarradas com grande balanço, mas sobretudo com uma mensagem forte.
No fundo, um apelo ao pensamento individual contra a apatia ‘sonambulismo’ constantes, o reflectir sobre o que nos rodeia, contemplando a diversão e a agitação, mas utilizando o pensamento como arma para o quotidiano.
O disco já está disponível nas lojas, foi mesmo considerado o 2º melhor trabalho de 2007 numa votação aqui no Billy News (apesar do lançamento oficial ter sido no passado dia 23 de fevereiro).
Fica aqui uma nota especial para o ‘artwork’ do disco, com excelente imagem do digipack a fazer lembrar uma fanzine ou flyer de concertos, com fotos bastante divertidas e as letras dos temas a acompanhar.
Aliás, a imagem dos Gazua é cuidada com logotipo e capa bastante apelativos.
Só se deseja que os Gazua continuem em forma para conseguirem trazer-nos ao vivo e em disco mais das suas ‘mensagens’ e feeling tão fortes, como até agora.
CD 2008 – Ed.Autor / distribuição: Raging Planet / Compact Records
14 comentários:
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Não se esqueçam que podem ouvir um medley com todos os temas de "Convocação" em...
http://www.myspace.com/gazua
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só espero que comecem a abrir os olhos para este cd porque está tudo lá desde a mensagem ao ritmo e acordes! a verdadeira convocação ao espirito dissidente!
pedro, ervas daninhas!
abraço billy grande trabalho :)
não tenho o disco mas pelo que ouvi no myspace está altamente. bom trabalho billy. luis pedro
“Punição” é mais uma guitarrada forte com um incrível ‘martelanço’ de Quim"....do Quim? Mas não foi po baterista dos RAMP que gravou o albúm?
Billy, é feio apagar comentários das pessoas...ainda por cima quando se diz a verdade. mas tu lá sabes o punk que és....viva a mentira. PS - o pessoal não é parvo.
Vi-os no Espaço e foi altamente. Tenho de arranjar o disco.
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Ao amigo 'anónimo' dos «apagões»...
Só para dizer que em 3 anos e meio de Billy News, nunca apaguei nenhum comentário de seja quem for...
Não seria certamente agora, nem muito menos por qualquer pessoa deixar um comentário em relação a um disco, obviamente...
Cada um tem direito à sua...
Por isso, não sei ao que te referes, nem deves ter lido a frase de entrada de 'o blog mais descontraído do espaço virtual...', mas tudo bem!
Que 'o pessoal não é parvo', tento que assim seja, mantendo o pessoal o mais informado possível do que se vai passando...
Por isso, não entendo comentários destes. Viva... a liberdade (de cada um dizer o que lhe vai na alma).
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Quanto ao 'martelanço' do Quim, tem todo o sentido essa indicação, o Paulinho dos Ramp tocou praticamente todos os temas do disco, com uma participação de bateria por parte do Pedro Cardoso, também ele um ex-Gazua...
E participaram mais pessoas, para além do Quim, como Marte Ciro (dos Peste & Sida) e Troy Perlic (Komodo Wagon).
Mas poderão comprovar ao vivo este 'martelanço' do Quim, que tão bem segura os temas mantendo a marcação rock dos Gazua, afinal tão característica...
É ouvir o disco e comprovar ao vivo!!!
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Isso cá para mim é dor de cotovelo
A velha invejazinha portucalense de quem quer ser mais que os outros mas tem preguiça. Realmente é mais fácil destruir que construir.
Quem esteve nos últimos concertos dos Gazua viu bem que o Quim dá conta do recado, e de que maneira, apesar de ele estar sempre a dizer que não é baterista :-) Há muitos que se dizem músicos e não suam metade do que ele sua em palco. Uma coisa é criticar, outra é maldizer.
Cá estaremos para ver o que esses valem, os Gazua nós já vimos.
Contacto
Billy, para que não hajam "mal entendidos" apenas achei que foi uma lacuna da tua parte não indicares que quem gravou a bateria não foi o Quim....nada mais nem nada menos. Foi apenas um reparo. Para a encomenda do comentário da "dor de cotovelo"...sinceramente não percebo...até gosto bastante do album. E em relação a "querer ser mais que os outros"...conheces-me de algum lado??? Disse mal do albúm??? Parabéns aos Gazua e ao blog. Carlos.
Billy, que fique claro que o que disse sobre não ter sido o Quim a gravar a bateria não foi em tom depreciativo. Apenas achei que faltava este apontamento na tua review. Relativamente ao sr. da “dor de cotovelo”, porque que raio é que hei-de ter inveja e “querer ser mais que os outros”? Conheces-me de algum lado? Inveja do quê e de quem? Por acaso disse mal do albúm? Deves ter a mania da perseguição...Get a life. Parabéns aos Gazua e ao blog. Carlos Mendes, Cacém.
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Não merece a pena ninguém se chatear, seja com isto, ou com o que for...
Como referi, fazia todo o sentido essa indicação...
O que estranhei foi a história de apagar comentários...
Mas o que interessa mesmo é que é um GRANDE disco, sem dúvida, um dos melhores que tenho ouvido nos últimos tempos e vai durar na aparelhagem...
Tentem apanhá-los ao vivo, comprovem o 'power' dos Gazua sentindo os temas in-your-face...
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Realmente tens razão, é difícil conhecer alguém que faz comentários e não assina. Ainda bem que esclareceste a situação e meteste a cabeça de fora. Quem mantém este blog a bombar merece essa consideração.
Contacto - Dalai Lume
Olá a todos! Quero dar os parabéns aos Gazua pelo excelente álbum "Convocação". Foi-me entregue em mão pelo João e é com grande prazer que o ouço vezes sem conta. É um disco com atitude, sem pretensiosismos, com refrões fortes, melodias que ficam logo no ouvido e letras directas. Para além disso já tive a oportunidade de os ver ao vivo 2 vezes e gostei bastante! Uma excelente banda, coesa, composta por bons músicos, sem dúvida umas das melhores a nível nacional de punk rock. Uma lufada de ar fresco num momento em que fazem falta mais bandas portuguesas a fazerem rock cantado em português. Desejo-lhes muita sorte e sucesso!
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