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quinta-feira, maio 17, 2007

Mão Morta em Portalegre

1 comentário:

Billy disse...

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Mão Morta ao vivo em Portalegre: «Está dito!»

«Os Cantos de Maldoror» não foi apenas mais um concerto dos Mão Morta. É «Maldoror por Mão Morta». É uma encenação de luz, música, vídeo e declamação. É o universo obscuro e perverso de Conde de Lautréamont, o autor dos "Cantos", contado e musicado pela banda de Braga através de uma peça de teatro, onde todos os elementos da banda desempenham um papel. É, de facto, uma peça inesquecível e brilhante.



Depois do Theatro Circo, em Braga, os Mão Morta chegaram, sábado, dia 19 de Maio, ao Centro de Artes e Espectáculos de Portalegre. Sala cheia para ver um espectáculo que só se repetirá no Inverno deste ano. Vinte e cinco minutos depois da hora marcada, Adolfo Luxúria Canibal declama: «Em poucas palavras, Maldoror não foi mau». Ainda o pano não destapara por completo o palco e os músicos já debitavam fúria e paixão nos instrumentos. Acordes violentos e um declamar agressivo, repetitivo e rápido. No palco, quase sempre a meia luz ou iluminado de vermelho sangue, os elementos da banda dispunham-se de forma rígida, bem encenada, vestidos de negro e trajados à Luís de Camões futurista. O baixo e as guitarras num plano afastado, do lado direito; a voz posicionada um pouco mais à frente no mesmo lado; os teclados na ponta do lado esquerdo e quase ao meio, a bateria, em cima de um paralelepípedo em altura, forrado a branco e onde passavam vídeos e imagens relacionadas com os diferentes temas. Aliás, histórias.

Apesar de musicadas naquela que é sonoridade típica de Mão Morta, agressiva e bela ao mesmo tempo, e de existir um casamento perfeito entre voz e música, não se podem chamar temas àquilo que na verdade são histórias, ou melhor, contos. Não se pode chamar canção à representação narrativa de Adolfo Luxúria Canibal, que durante uma hora e meia encarnou as mais terríveis e obscenas personagens e narrou sobre os mais nefastos temas. Há prostitutas, sexo selvagem, porcos que vomitam, escaravelhos, pederastas e poções mágicas que curam todos os males e toda a maldade.

Os Mão Morta não fizeram um álbum novo. Criaram um mundo a partir de uma obra de outra pessoa. Um mundo que tem tanto de Mão Morta como qualquer outro álbum. Um mundo que mistura o feio, o nojento e a maldade com a poesia e a inocência de uma menina vestida de branco com «duas tranças pretas que caiem sobre os ombros de mármore». Os Mão Morta levaram-nos para dentro desse mundo infernal e nós não mexemos. Ficámos parados a assistir, de tão impressionante que era. Maldoror não foi mau. Foi muito bom. «Está dito!»

21-05-2007

por Ana Baptista em...

http://diariodigital.sapo.pt/disco_digital/news.asp?id_news=24390

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