segunda-feira, janeiro 07, 2019

Rattus (Albert Fish) - entrevista sobre o momento actual da banda


Formada em 1995, a activa banda lisboeta já é considerada (há muito tempo) uma das principais da cena street-punk portuguesa.


As imensas edições e a atitude nos variados concertos dados no nosso país e também no estrangeiro ao longo destes anos, são a marca pessoal dos Albert Fish.

Actualmente formados pelo baixista Luís Raatus, o guitarrista Paulão (também dos Decreto 77), o baterista Saavedra, para além dos recentes elementos, a vocalista Inês (ex-Asfixia, Nostragamus e Rolls Rockers) e o guitarrista Alex (ex-New Winds) preparam-se naturalmente para uma nova fase. 


O Billy News colocou algumas questões pertinentes a Rattus sobre esta fase actual, vejamos o que ele respondeu...




Billy- Este ano comemoram 24 anos de actividade. Creio que em 1996/7, cheguei a ver os Albert Fish ao vivo no Café Central, espaço na Avenida 24 de Julho em Lisboa. Actualmente como membro da formação original, que memórias guardas desses tempos?

Rattus- Esse concerto foi com Crise Total no dia 26-04-1997. Guardo as melhores recordações desses tempos, mas não sou nostálgico. Prefiro concentrar-me no presente e no que podemos fazer no futuro. Os anos 90 foram muito genuínos, muito inocentes... fazíamos muito com tão pouco. Apanhámos o tempo em que ainda não havia internet, em que se escreviam cartas e trocavam cassetes. Gravar uma demo era uma aventura. Hoje é tudo muito acessível e acho que a malta perde a pica com isso. A nossa escola foi o Do-It-Yourself levado ao extremo e foi uma grande escola para nós.




Billy- As imensas edições lançadas ajudaram a cimentar e a sentir-se maior coesão na banda, que se transmitiu nas actuações ao vivo. Iniciaste uma editora (Zerowork Recs) que também deu uma ajuda preciosa. O motivo, foi mesmo de propósito para impulsionar a banda ou foi tudo paralelo?

Rattus- Não foi de propósito, foi uma coincidência as coisas acontecerem na mesma altura. Eu formei a Zerowork Records juntamente com o Zé (ex- Pó D'Escrer e actualmente Atomkrig) em 1999, portanto na fase da separação do primeiro line up de Albert Fish e numa altura em que não estávamos a pensar gravar. A primeira edição da Zerowork acabou por ser o split 10" de Croustibat/ Simbiose em 2000. Acontece que em 2001 gravámos uma demo promocional. A Anticorpos mostrou interesse mas tinha como ideia fazer um split em tape com uma banda brasileira. No entanto o Zé gostou tanto da gravação que me sugeriu co-editarmos mas avançarmos para uma gravação nova que seria o primeiro álbum da banda, o Strongly Recommended de 2002. Daí para cá já editámos muita coisa, algumas delas com a ajuda da Zerowork, outras através de outros selos, inclusive com algumas estrangeiras. Quanto à Zerowork está quase a atingir as 70 edições.







Billy- Actuaram em vários países, o que é sempre salutar para uma banda e no vosso caso, com a interpretação (maioritariamente) em inglês, facilita. Escolhe um dos concertos ´fora de portas` que te deu especial prazer e relata-nos alguns detalhes pela experiência vivida ou mesmo por algum momento caricato.

Rattus- Até ao momento temos duas tours na Europa, uma no Brasil ao lado dos Garotos Podres, uma na Península Ibérica ao lado dos Varukers, e muitas outras incursões por Espanha, Hungria, etc. As experiências mais marcantes foram sem dúvida a primeira tour na Europa ainda de mapa em punho e sem GPS, e a tour no Brasil que foi preparada de uma forma muito profissional. Muitas histórias nos marcaram, desde cenas de porrada com público, perdermos concertos por greves da TAP, tocarmos em antigos Mosteiros, conhecermos cidades brutais e pessoas maravilhosas, noitadas de caixão à cova, quererem-nos pagar com droga e gasolina roubada, concertos interrompidos pela policia, passarmos no meio de um tiroteio no Rio de Janeiro, dezenas de entrevistas bizarras e um largo etecetra. Talvez o concerto que me tenha marcado a mim pessoalmente tenha sido o de Vila Velha no Brasil, foi das coisas mais selvagens a que assisti com o palco invadido do primeiro ao último segundo e com malta constantemente pendurada no tecto, foi brutal.








Billy- Os Albert Fish sofreram várias alterações nos membros da banda, ao longo de vários anos. Musicalmente torna-se prejudicial ou até serve como um novo ´respirar`, com a entrada de uma nova pessoa em cada momento que aconteceu?

Rattus- Acaba por funcionar como um boost, sim. Sempre que entra alguém há um novo entusiasmo e sangue novo resulta sempre. Apesar de se notarem as diferenças do background de cada guitarrista, há uma personalidade que os Albert Fish têm vincada, que não deixa desviar do espírito punk-rock/ streetpunk da banda.




Billy- Por falar em mudanças de elementos, estão agora com uma nova vocalista, a Inês (ex-Asfixia, Rolls Rockers e Nostragamus). Há com certeza algumas diferenças em relação à parte vocal, no registo. Como decidiram optar por uma voz feminina?

Rattus- Experimentámos algumas pessoas, que tinham o espírito certo mas a nível vocal não conseguiam atingir alguns registos dos temas. Eu penso que até fui o membro mais reticente em experimentar uma vocalista feminina, tinha receio que desvirtuasse o som da banda. Mas quando experimentámos a Inês nem vacilámos, era mesmo o que procurávamos. A Inês está num registo diferente das outras bandas por onde passou, consegue fazer a balança entre a melodia e a agressividade, cantar com aquele grão mais rough, mais streetpunk que pretendemos. Estamos todos super entusiasmados!



Billy- Por fim, indica-nos se já concertos confirmados brevemente e se há planos para um novo disco, já que tirando alguns singles e EP´s, o último álbum foi lançado em 2010 ("News From The Front").

Rattus- O News From The Front é de 2009, mas o Still Here (apesar de termos aproveitado todos os seus temas para EPs e splits para saírem também em vinil) é o último álbum e é de 2014. Depois disso já editámos uma catrefada de coisas em splits, EPs e cassetes, mas esse foi realmente o último álbum. Sim, além de outras surpresas temos em vista trabalhar num novo álbum, e posso dizer que já temos bastante material. Eu e o Paulão tínhamos algumas coisas na gaveta, mas o Alex trouxe bastantes temas novos para a banda pelo que já temos algo consistente para pegar. Outra vantagem é que o Alex tem também grande criatividade no que respeita a letras, pelo que tem avançado nesse campo também. No que se refere a concertos, temos já um pequeno teste nestes dias, num pequeno concerto para convidados para celebrar o meu aniversário, junto a outras bandas. Mais a sério temos já confirmado o Mira Fest no dia 30 de Março e um concerto para o jornal MAPA, na SMUP (Parede) com data a confirmar. Temos já outros concertos em vista mas por agora são esses que podemos adiantar.





Podem acompanhar as novidades dos Albert Fish acedendo aqui à página da banda.