Ele tinha saúde de ferro, E a taxa moderadora a enferrujou; Tinha até um nervo de aço, E o fisco o oxidou; Tinha um coração de ouro, E a troika o desdourou; Tinha um dente de platina, E o prego o açambarcou; Tinha um anel de latão, E o imposto lho levou; Tinha também pechisbeque, E o Gaspar lho tirou. E assim se foi o metal, Só lhe resta passar fome, Que a Fazenda Nacional, Come tudo, tudo come!
Novo Auto da Feira Escrito por Gil Vicente em 2012, aquando duma visita da sua alma ao país natal
Entra na feira um político do arco da governação, carregadinho de tachos e favores, e diz:
Vender-vos-ei nesta feira tachinhos vinte e três mil todos de nova maneira cada uma tão subtil, que não vos falte o tachinho amigos e compadragem, não esquecendo os filhinhos, e toda a vossa criadagem.
Chega à feira um edil, que logo se dirige ao do arco da governação.
Ora viva senhor ministro, que bem folgo em vos ver lembrai-vos sempre de mim pois nada tendes a perder, trago eu para vender, uns favorzinhos singelos o povo rompe os chinelos, e vós sapato de pele,
Um camponês, ouvindo o edil, logo lhe perguntou:
Que trazeis no vosso saco, que eu não consigo enxergar? serão votos ou licenças, para o outro se enfartar? que grande edil me saístes com fama na região a tudo deitas a mão, fazendo figuras tristes, perante este aldeão.
Responde o edil ao camponês:
Ó meu pacóvio sem graça que vens tu aqui comprar nesta feira semanal? que só sabes criticar aquilo que parece mal; que mal há num favorzinho, vindo lá da capital? é uma questão de princípio aqui no meu município, eu tenho o poder real.
Há sempre um lugar ao sol Parlamento ou governo Apanhamos um a um Os tachos Ninguém nos tira o tachinho Rapamos mesmo tudinho Só nos pode causar risco O fisco.
Entram broncos, chochos e patetas E alguns forretas Entram iates e topos de gama E alguns jarretas Entram bravos, cravas e calotes Porque tudo o mais São petas. Entram vacas depois dos mestrados Que não fazem nada Soam brados e olás dos tansos Que não mamam nada E é sempre a mesma bodega A jogar à cabra-cega.
Enchendo muito a pancinha Afugentamos o fisco Dentro do tacho Há um bom petisco. Nós vamos dizer ao mundo Que isto aqui já não tem raça Só nos resta a bolsa tesa… Desgraça.
Entram velhas e licenciados Entram fundações Entram artifícios e juristas E muitos burlões Entra a banca e os prestamistas Entram comilões Que arriscam Entra um banqueiro e o chupa-chupa Do seu egoísmo E o auditor com a sua lupa Do inspecionismo. Entra a garotada já caduca Mais o partidarismo E cismo…
Entram empresários numas listas Entram ilusões Entram autarquias e chupistas E grandes tachões E entra muito euro, muita gente Que dá uso aos milhões.
E diz o Chôr Presidente: “Não acabam as minhas pensões.”
Numa casa portuguesa já só tem, Ar e vento sobre a mesa. E se à porta bruscamente bate alguém, Passa fome com a gente. A mãe está com a fraqueza e não tem Nada para dar ao dente. E até a tia Teresa Está muito muito tesa, E a ficar toda carente.
Quatro bocas esfaimadas, Ai coitadinho de mim, Tantas reformas doiradas, E eu aqui, sem um pilim. Já vendi o azulejo, Que me deu a tia Vera. Acabaram-se os desejos… É a miséria à minha espera…
É uma casa portuguesa, que tristeza! Ai que tristeza, é uma casa portuguesa!
O conforto que eu queria cá no lar, Toma mas é juizinho. Pois há tantas tantas contas por pagar, E nada para a panela… Basta pouco, poucochinho p’ra gastar, A minha reforma e a dela… É amor sem pão e vinho, E raramente um caldinho Muito frio na tijela.
Quatro bocas esfaimadas, Ai coitadinho de mim, Tantas reformas doiradas, E eu aqui, sem um pilim. Já vendi o azulejo, Que me deu a tia Vera. Acabaram-se os desejos… É a miséria à minha espera…
É uma casa portuguesa, que tristeza! Ai que tristeza, é uma casa portuguesa! É uma casa portuguesa, que tristeza! Ai que tristeza, é uma casa portuguesa!
5 comentários:
Ele tinha saúde de ferro,
E a taxa moderadora a enferrujou;
Tinha até um nervo de aço,
E o fisco o oxidou;
Tinha um coração de ouro,
E a troika o desdourou;
Tinha um dente de platina,
E o prego o açambarcou;
Tinha um anel de latão,
E o imposto lho levou;
Tinha também pechisbeque,
E o Gaspar lho tirou.
E assim se foi o metal,
Só lhe resta passar fome,
Que a Fazenda Nacional,
Come tudo, tudo come!
Van Allu
Outubro 2012
Novo Auto da Feira
Escrito por Gil Vicente em 2012, aquando duma visita da sua alma ao país natal
Entra na feira um político do arco da governação, carregadinho de tachos e favores, e diz:
Vender-vos-ei nesta feira
tachinhos vinte e três mil
todos de nova maneira
cada uma tão subtil,
que não vos falte o tachinho
amigos e compadragem,
não esquecendo os filhinhos,
e toda a vossa criadagem.
Chega à feira um edil, que logo se dirige ao do arco da governação.
Ora viva senhor ministro,
que bem folgo em vos ver
lembrai-vos sempre de mim
pois nada tendes a perder,
trago eu para vender,
uns favorzinhos singelos
o povo rompe os chinelos,
e vós sapato de pele,
Um camponês, ouvindo o edil, logo lhe perguntou:
Que trazeis no vosso saco,
que eu não consigo enxergar?
serão votos ou licenças,
para o outro se enfartar?
que grande edil me saístes
com fama na região
a tudo deitas a mão,
fazendo figuras tristes,
perante este aldeão.
Responde o edil ao camponês:
Ó meu pacóvio sem graça
que vens tu aqui comprar
nesta feira semanal?
que só sabes criticar
aquilo que parece mal;
que mal há num favorzinho,
vindo lá da capital?
é uma questão de princípio
aqui no meu município,
eu tenho o poder real.
Van Allu
Setembro 2012
Tachada (ex- Tourada)
Há sempre um lugar ao sol
Parlamento ou governo
Apanhamos um a um
Os tachos
Ninguém nos tira o tachinho
Rapamos mesmo tudinho
Só nos pode causar risco
O fisco.
Entram broncos, chochos e patetas
E alguns forretas
Entram iates e topos de gama
E alguns jarretas
Entram bravos, cravas e calotes
Porque tudo o mais
São petas.
Entram vacas depois dos mestrados
Que não fazem nada
Soam brados e olás dos tansos
Que não mamam nada
E é sempre a mesma bodega
A jogar à cabra-cega.
Enchendo muito a pancinha
Afugentamos o fisco
Dentro do tacho
Há um bom petisco.
Nós vamos dizer ao mundo
Que isto aqui já não tem raça
Só nos resta a bolsa tesa…
Desgraça.
Entram velhas e licenciados
Entram fundações
Entram artifícios e juristas
E muitos burlões
Entra a banca e os prestamistas
Entram comilões
Que arriscam
Entra um banqueiro e o chupa-chupa
Do seu egoísmo
E o auditor com a sua lupa
Do inspecionismo.
Entra a garotada já caduca
Mais o partidarismo
E cismo…
Entram empresários numas listas
Entram ilusões
Entram autarquias e chupistas
E grandes tachões
E entra muito euro, muita gente
Que dá uso aos milhões.
E diz o Chôr Presidente:
“Não acabam as minhas pensões.”
Lá lárá lá lá lá lá lá lá lá, lálárá lá lá….
Van Allu
agosto 2012
Uma Casa Portuguesa (Versão CRISE)
Numa casa portuguesa já só tem,
Ar e vento sobre a mesa.
E se à porta bruscamente bate alguém,
Passa fome com a gente.
A mãe está com a fraqueza e não tem
Nada para dar ao dente.
E até a tia Teresa
Está muito muito tesa,
E a ficar toda carente.
Quatro bocas esfaimadas,
Ai coitadinho de mim,
Tantas reformas doiradas,
E eu aqui, sem um pilim.
Já vendi o azulejo,
Que me deu a tia Vera.
Acabaram-se os desejos…
É a miséria à minha espera…
É uma casa portuguesa, que tristeza!
Ai que tristeza, é uma casa portuguesa!
O conforto que eu queria cá no lar,
Toma mas é juizinho.
Pois há tantas tantas contas por pagar,
E nada para a panela…
Basta pouco, poucochinho p’ra gastar,
A minha reforma e a dela…
É amor sem pão e vinho,
E raramente um caldinho
Muito frio na tijela.
Quatro bocas esfaimadas,
Ai coitadinho de mim,
Tantas reformas doiradas,
E eu aqui, sem um pilim.
Já vendi o azulejo,
Que me deu a tia Vera.
Acabaram-se os desejos…
É a miséria à minha espera…
É uma casa portuguesa, que tristeza!
Ai que tristeza, é uma casa portuguesa!
É uma casa portuguesa, que tristeza!
Ai que tristeza, é uma casa portuguesa!
Van Allu
2012
SEM QUEM ELE É
(Madalena Iglésias conta para o Primeiro Ministro)
Sei quem ele é,
Ele é um capataz
Um pouco ríspido até.
Vivia numa de pagar o calote,
E o ministro das finanças pediu mais,
Mais suor
A troika apareceu
Com o dinheirinho,
Mas só recebeu
Amor e carinho;
E agora ele diz
Que alcançou na vida o maior bem,
É feliz!
Só pensa na troika
A todo o minuto;
Sonha com ela
P’la noite dentro.
Se ela se atrasa,
Já não há pote.
Chega à janela e vê o Portas,
Sonha com ela (A COLIGAÇÃO)
No pensamento;
O Passos sem ela
Não é ninguém.
Van Allu
Van Hellen
Outubro 2012
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