Concerteza que toda a gente já está farta de reparar no sticker 'Parental Advisory Explicit Lyrics' em vários discos, com ou sem real sentido de aparecer na capa das mais variadas edições...
Podem ler uma reportagem sobre como se iniciou o processo deste símbolo surgir na música, (em 1985) clicando em "Comments" já abaixo...
É interessante, vale a pena ler até ao fim...
1 comentário:
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(Reportagem publicada no site brasileiro Whiplash)
A história da Parents Music Resource Center (PMRC)
Por Demian Filipe Ferreira da Silva
Na metade dos anos Oitenta, surgiu uma guerra contra o Rock e Heavy Metal, o pivô disso tudo foi uma organização chamada PMRC. Formada por esposas de influentes políticos de Washington, esse grupo causou uma verdadeira polêmica no mundo da música. Seriedade e responsabilidade ou apenas uma idéia sem fundamentos criada por mulheres sem muito conteúdo que se aproveitaram do poder de seus maridos? Confira você mesmo na matéria que se segue.
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O começo de tudo
Em uma manhã de Dezembro de 1984, Tipper Gore, esposa do, então senador Al Gore ouvia junto com sua filha a trilha sonora do filme “Purple Rain”. Uma das músicas contida nesta compilação era “Darling Nikki”, do músico Prince e ao ouvir a canção, Gore ficou chocada com as referências a masturbação que esta continha. Ela então começou a assistir diversos vídeos de rock com sua filha, incluindo “Hot for Teacher” do Van Halen, “Rock You Like a Hurricane” do Scorpions e “Looks that Kill” do Motley Crüe. A quantidade de sexo e violência contida nesses vídeos a chocou: “As imagens assustaram meus filhos, elas me assustaram! A violência e o sexo foram demais para que nós lidássemos”. Ela falou com várias de suas amigas para alertá-las sobre o fato, destacando-se Susan Baker, Pan Howar e Sally Nevius, esposas, respectivamente, do Secretário do Tesouro, James Baker, do Corretor Imobiliário de Washington, Raymond Howar e do presidente do Conselho Civil de Washington, John Nevius. Juntas elas formaram a PMRC (Parents Music Resource Center), cujo objetivo era alertar o público sobre “a crescente tendência na música a respeito das letras que são sexualmente explícitas, excessivamente violentas, ou glorificam o uso de drogas e álcool”.
A PMRC atribuía ao Rock o aumento das taxas de estupro e suicídio. Argumentavam que há uma estreita ligação entre o conteúdo das músicas e o suicídio de jovens. Para provar isso, usaram as músicas “Suicide Solution”, de Ozzy Osbourne, “Don’t fear the reaper”, do Blue Oster Cult e “Shoot to Thrill”, do AC/DC.
“Suicide Solution” foi composta em homenagem a Bon Scott, que morreu devido ao excesso de bebida, “solução”, na música, se refere à solução líquida, no caso, a bebida alcoólica. “Don’t Fear the Reaper” aparentemente apenas fala sobre não temer a morte. “Shoot to Thrill” demonstra ser uma música sobre mulheres e sexo; atirar é usado apenas como metáfora. Essas interpretações errôneas demonstram a ”seriedade” da PMRC.
Também era dito que a influência do rock nos jovens se dava pela decadência da família nuclear (família tradicional, composta por pai, mãe e filhos), que abalava a imunidade das crianças e adolescentes às influências externas.
O ataque
A primeira ação da PMRC foi mandar uma carta oficial à RIAA (Recording Industry Association of America), assinada por 20 esposas de influentes políticos e homens de negócio de Washington. A carta sugeria que a indústria musical adotasse medidas voluntárias para desenvolver diretrizes e/ou um sistema de avaliação similar àqueles do sistema de classificação de filmes da MPAA. Obviamente ouve resistência da RIAA, e, com o intento de pressioná-los, era necessário que a PMRC buscasse destaque na mídia. Para isso o grupo publicou na Washington Post uma lista com seis exigências de Tipper Gore e Susan Baker.
1 – Imprimir Letras nas capas dos álbuns.
2 – Manter capas explícitas embaixo das prateleiras.
3 – Estabelecer um sistema de classificação similar àquele dos filmes.
4 – Estabelecer um sistema de classificação para vídeos.
5 – Reavaliar o contrato de músicos que empregam violência e conteúdo sexual explícito nos palcos.
6 – Estabelecer uma vigilância da mídia por cidadãos e gravadoras, que pressionaria meios radiodifusores a não levar ao ar “talentos-questionáveis”.
Esses fatos levaram à remoção de músicas e revistas de Rock de lojas americanas, incluindo o Wal-mart, J.C. Penney, Sears e Fred Meyer.
Além disso, a PMRC lançou uma lista, intitulada de “As Quinze Imundas”, que continha quinze música que foram consideradas as mais repreensíveis:
Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/PMRC
As audiências
Em agosto de 1985, 19 gravadoras aceitaram colocar a etiqueta “Parental Advisory: Explicity Lyrics” (Aviso aos pais, letras explícitas) nos álbuns para alertar sobre o conteúdo das letras. Porém antes que os rótulos pudessem ser colocados, o senado concordou em realizar uma audiência do então chamado “porn-rock”. Isto começou no dia 19 de setembro, quando representante da PMRC, três músicos, e os senadores Paula Hawkins e Al Gore testemunharam ante o Comitê do Senado sobre Comércio, Ciência e Transporte sobre “o assunto relacionado ao conteúdo de certas gravações sonoras e sugestões que embalagens de gravações sejam rotuladas para fornecer um aviso a potenciais consumidores de sexualidade explícita ou outro conteúdo potencialmente ofensivo”.
Testemunhas a favor
Durante os depoimentos que defendiam a PMRC, foram apresentados por Paula Hawins as capas de “Pyromania”, do Def Leppard, “W.O.W.”, de Wendy O. Willians e “Animal (Fuck Like a Beast)” do W.A.S.P. e os vídeos para as músicas “Hot For Teacher”, do Van Halen e de “We’re Not Gonna Take It” do Twisted Sister. Foram também feitos comentários por Susan Baker, Millie Waterman, Vice Presidente da PTA (National Parent-Teacher Association) para Atividade Legislativa e do Dr. Joe Stuessy, professor da Universidade do Texas em Santo Antonio.
Os depoimentos apresentavam como base os argumentos de que o rock havia mudado muito desde seu início, e que apresentava uma glorificação de aspectos negativos do cotidiano, como uso de drogas, sexismo, ocultismo e violência. Foi dito que o poder de influência do estilo se alicerçava na adoração de músicos de heavy metal, que se apresentava como uma religião.
Testemunhas contra
Os músicos Frank Zappa, John Denver e Dee Snider, vocalista do Twisted Sister, depuseram contra a PMRC. A bancada da PMRC esperava que Denver, músico de Folk Rock, ficasse do lado deles, mas ele testemunhou contra a censura, dizendo ser “fortemente contra a censura de qualquer tipo em nossa sociedade ou em qualquer lugar do mundo”, isso lhe deu destaque na audição.
Frank Zappa e Dee Snider defenderam suas músicas e criticaram fortemente a PMRC. Seguem abaixo trechos de ambos os depoimentos. Os depoimentos completos podem ser lidos aqui.
Frank Zappa
“A proposta da PMRC é uma peça de estupidez concebida de forma doente que falha em fornecer reais benefícios às crianças, infringe as liberdades civis das pessoas que não são crianças, e promete manter a corte ocupada por anos, lidando com os problemas de interpretação e de execução ao molde da proposta.”
“O estabelecimento de um sistema de classificação, voluntário ou de outra forma, abre a porta para uma exibição sem fim de controles de qualidade morais baseadas em ‘Coisas que certos Cristãos não gostam’. O que acontece se a próxima leva de esposas de Washington exige um grande ‘J’ amarelo em todo material escrito e interpretado por judeus, a fim de salvar crianças indefesas da exposição à ‘oculta doutrina Sionista’?”
“A PMRC forjou uma besta mítica, e forma uma tramóia por exigir ‘normas de procedimento do consumidor’ para impedi-lo de convidar suas crianças para dentro de suas paredes de açúcar (N.T.: Música de Sheena Easton, que ficou na lista das “Quinze Imundas”; paredes de açúcar seria uma referência às bordas da vagina). O próximo passo é a adoção de uma ‘idade legal, de acordo com a PMRC, para compreensão da excitação vaginal?’ Muitas pessoas nessa sala iriam orgulhosamente apoiar tal legislação, mas, antes de eles começarem a traçar suas idéias, eu os incito a considerar estes fatos:”
(1) Não há evidência científica conclusiva para apoiar a idéia que a exposição a qualquer tipo de música ira causar o ouvinte a cometer um crime ou condenar sua alma ao inferno.
(2) Masturbação não é ilegal. Se não é ilegal fazê-lo, porque seria ilegal cantar sobre isso?
(3) Nenhuma evidência médica de palmas cabeludas, verrugas ou cegueira têm sido ligada à masturbação ou excitação vaginal, nem tem sido provado que ouvir referências a qualquer um dos assuntos transforma o ouvinte em uma deficiência social.
(4) A execução de uma legislação antimasturbação poderia se provar custosa e consumidora de tempo.
(5) Não há espaço o suficiente em prisões para prender todas as crianças que o fazem.
“A proposta da PMRC é mais ofensiva em seu ‘tom moral’. Ela parece forçar um conjunto de valores religiosos implícitos em suas vítimas. O Irã tem um governo religioso. Bom para eles. Eu gosto de ter a capital dos Estados Unidos em Washington, D.C., apesar dos recentes esforços para movê-la para Lynchburg, VA.”
Dee Snider
A respeito da acusação da música “Under the Blade” fazer referência ao sadomasoquismo, servidão e estupro.
“A Sra. Gore disse que uma de minhas músicas, ‘Under the Blade’, encoraja ao sadomasoquismo, servidão e estupro. As letras que ela citou não têm absolutamente nada relacionado com estes assuntos. Ao contrário, as letras em questão são sobre cirurgia e o medo que ela causa nas pessoas. Como o criador de ‘Under the Blade’, eu posso dizer categoricamente que... o único sadomasoquismo, servidão e estupro nesta música estão na cabeça da Sra. Gore.”
A respeito da música “We’re Not Gonna Take it” ser classificado como incitante de violência e ser incluída na lista das “Quinze Imundas”
“Você notará nas letras na sua frente que não há absolutamente violência de qualquer tipo cantada sobre ou implícita em qualquer lugar na canção. Agora, me ocorre que a PMRC pode haver confundido nosso vídeo para a música com o significado das letras.”
“Não é segredo que os vídeos freqüentemente descrevem histórias completamente não relacionadas com as letras da música que eles acompanham. O vídeo para ‘We’re not gonna take it’ foi simplesmente feito para ser um desenho com atores humanos representando variações dos desenhos de ‘Papa-léguas e Coiote’, cada acrobacia foi selecionado de minha extensa coleção de desenhos.”
A respeito da acusação de garotos usarem camisetas do Twisted Sister com desenhos de mulheres algemadas e em posições de sadomasoquismo.
“Isso é uma mentira completa. Nós não apenas nunca vendemos uma camiseta desse tipo; nós temos sempre levados grandes dores para nos mantermos limpos de sexismo em nosso merchandising, álbuns, palcos, show e vida pessoal. Além disso, nós temos sempre promovido a crença de que o rock ‘n’ roll não deveria ser sexista, mas deveria satisfazer a homens e mulher igualmente.”
“Eu sinto que uma acusação desse tipo é irresponsável, danosa à nossa reputação, e caluniosa. Eu desafio a Sra. Gore a produzir tal camiseta para dar razão à sua crítica. Eu estou cansado de encontrar garotos na rua que me dizem que não podem tocar nossos álbuns mais por causa das informações enganosas têm sido fornecidas a seus pais pela PMRC na TV e nos jornais.”
“A beleza da literatura, poesia, e música é que eles deixam espaço para sua audiência colocar sua própria imaginação, experiências, e sonhos em palavras. Os exemplos que eu citei antes mostraram clara evidência da música do Twisted Sister sendo mal-interpretada e injustamente julgada por adultos supostamente bem informados.”
O “Tipper Sticker”
No dia 1º de Novembro, de 1985, antes de a audiência acabar a RIAA aceitou colocar o adesivo “Parental Advisory: Explicit Lyrics” nos álbuns. Os rótulos eram genéricos, diferentemente da idéia original de se colocar um rótulo para cada tipo de letra explícita.
Um fato curioso foi o de que o álbum “Jazz from Hell”, de Frank Zappa, mesmo sendo um álbum completamente instrumental, recebeu o adesivo.
Houve várias reações a essa etiqueta, que ficou conhecida como “Tipper Sticker”, que traduzido ficaria aproximadamente como “Adesivo Tipper”, em referência a Tipper Gore, algumas lojas evitavam vender álbuns e outras limitavam a venda.
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Termina por aqui a primeira parte da história da PMRC. Na segunda parte falarei sobre as reações diversas causadas no meio musical por causa do “Tipper Sticker” e dos inúmeros protestos feitos por artistas a respeito desse rótulo. Abraços e até lá!
Bibliografia:
http://www.geocities.com/fireace_00/pmrc.html
http://en.wikipedia.org/wiki/PMRC
http://www.vh1.com/shows/series/movies_that_rock/warning/history.jhtml
http://only-rock2.tripod.com/pmrc/
Reportagem retirada de...
http://whiplash.net/materias/especial/070046-twistedsister.html
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