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quarta-feira, abril 27, 2011

Peste & Sida - entrevista no CM

A propósito dos 25 anos dos Peste & Sida e do novo álbum "Não Há Crise", o Vidas (suplemento do Correio da Manhã) entrevistou João San Payo...


João San Payo:
"Os Peste & Sida trouxeram desconforto a muita gente"





Podem ler a entrevista, clicando em "Comments" já abaixo...

5 comentários:

Billy disse...

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João San Payo: "Os Peste & Sida trouxeram desconforto a muita gente"
23-04-2011


A cumprirem 25 anos de carreira, os Peste & Sida lançam novo disco de originais. O pretexto para falar com uma lenda viva do rock português.





- Olhando para os 25 anos de carreira dos Peste & Sida, valeu a pena?

- Tivemos alguns altos e baixos, mas valeu a pena. Foram 25 anos que deram para fazer muita coisa e que nos dão muita vontade de continuar.




- Mas foi um trajecto com mais altos ou mais baixos?

- Ainda não fiz essa contabilidade, mas devem ter sido certamente mais altos, porque senão não teríamos tido força para continuar.




- Os Peste & Sida vão lançar um livro sobre a sua história. Vão mesmo revelar tudo ou há histórias que não podem contar?

- Não. Acho que está quase tudo lá. As histórias piores já foram há tanto tempo que acho que já todos nos esquecemos delas.





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Billy disse...

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- Essas histórias "piores" estão relacionadas com o quê?

- Quando éramos mais novos talvez nos tenhamos prejudicado um bocadinho, porque não sabíamos gerir tão bem as coisas. Cometemos alguns excessos.




- Está a falar de álcool e droga?

- Exactamente, sobretudo nos loucos anos 80. Houve muito álcool, muita droga e muito pouca maturidade para gerir as coisas. E isso paga-se.




- Como é que ultrapassaram essas situações?

- Fomos aprendendo. Com o tempo percebemos que tínhamos de atingir um ponto de equilíbrio entre a loucura e a responsabilidade.




- Qual foi o episódio mais negro da carreira dos Peste & Sida?

- Acho que o episódio mais negro destes 25 anos aconteceu comigo e não foi há muito tempo, em Outubro de 2006, curiosamente, numa sexta-feira 13. Momentos antes de um concerto em Coimbra parti o colo do fémur e tive de viajar de urgência para Lisboa para ser operado. Na altura, foi o Nuno Rafael substituir-me. Se tivesse acontecido com outra banda qualquer tinha aparecido nas revistas todas (risos).




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Billy disse...

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- O que é que ainda existe da irreverência que juntou os Peste & Sida em 1986?

- Quase tudo. Em termos de conteúdo e mensagem, por exemplo, continuamos a usar a mesma linguagem. Continuamos a falar dos problemas sociais, das injustiças que continuamos a ver todos os dias e das incongruências dos nossos governantes. E continuamos também a usar a mesma linguagem directa.




- Os Peste & Sida surgiram em pleno ‘boom' do rock português. Foi difícil começar?

- Nós começámos sem qualquer expectativa de seguir carreira. Tínhamos 18 anos e queríamos era curtir. É verdade que as coisas correram muito bem, mas acho que nunca parámos para pensar se as coisas eram fáceis ou difíceis.




- No início da carreira participaram num festival de bandas portuguesas e ficaram em último lugar. O que é que, hoje, lhe apetecia dizer ao júri?

- Nada. Eu compreendo o júri desse festival.




- Porquê?

- Porque nós na altura fomos tocar o ‘Veneno' (o único tema que tínhamos escrito com princípio, meio e fim) que não tinha nada a ver com as restantes canções a concurso. Era muito ‘fora' do que se fazia. Nós éramos os ‘outsiders' daquele festival. A nossa proposta era muito arrojada.




- O punk continua a ser a sua grande fonte de inspiração ou o punk morreu?

- O punk deu-nos muitas indicações de como devíamos fazer as coisas. Eu não sei se o punk morreu, mas a verdade é que poucas bandas de hoje têm a atitude punk que nós tivemos na altura. Acho que a parte da intervenção e de crítica política e social está um pouco esquecida. A maior parte das bandas punk da actualidade só faz música para pular e para entreter.




- Mas o punk ainda faz sentido?

- Claro que faz. Tudo depende muito da mensagem que se quer passar. Para mim, o punk continua a ser uma arma de intervenção.



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Billy disse...

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- O nome Peste & Sida deu-vos muitos problemas?

- Muitos. No início não nos ajudou em nada a vender espectáculos.




- Foram censurados?

- Não propriamente, mas foi um nome que trouxe desconforto a muita gente. Estamos a falar de uma altura em que a SIDA era uma doença da qual se conhecia pouco e por isso houve muitas reservas em relação a nós. A verdade é que, para nós, Peste & Sida era apenas um trocadilho de palavras.




- O que recorda do início e dos primeiros ensaios na Galeria Monumental, ao Campo Santana?

- Na verdade nós começámos a tocar na sala de uma gráfica, eu e o Luís Varatojo. Mais tarde, recrutámos o Raposo e fomos ensaiar para uma vivenda nos Capuchos já com a ideia de criar uma banda. Finalmente, convidámos o João Pedro Almendra para se juntar a nós e foi aí que fizemos os primeiros ensaios na Monumental. Houve muita gente a apoiar-nos. Numa altura em que não havia redes sociais e nem sequer telemóvel houve muitas pessoas que nos ajudaram a promover o grupo.




- O ‘Sol da Caparica' é talvez o grande sucesso dos Peste & Sida. Que relação é que vocês têm hoje com esta canção. Nunca se cansaram de a tocar?

- Não, porque é uma canção de que eu gosto muito, seja tocado pelos Ramones ou pelos Peste & Sida. Nos concertos há sempre malta a divertir-se com esta música e isso dá-me um gozo enorme. São clássicos que ficam para sempre.




- O João San Payo tem três filhas, de 4, 9 e 14 anos. Que relação têm com a música que o pai faz?

- Elas têm uma excelente relação com a minha música, mas não só. Nunca as inibi de ouvir nada. Em minha casa ouve-se muita música, eu sou um fã de jazz, mas elas ouvem o que gostam.



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Billy disse...

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- Gostava que elas seguissem a vida de músico?

- Não sei. Eu digo-lhes na brincadeira que as meninas devem ir para o ténis e os rapazes para o futebol.




- Os Peste & Sida estão também de regresso aos discos. Como é este novo disco?

- É um disco que está ao nível do ‘Veneno' ou do ‘Portem-se Bem'. Tem rock puro e duro e muito ska. Ao nível de conteúdo, volta a ter muita crítica social, mas desta vez fomos mais introspectivos.




- Introspectivos, como assim?

- As pessoas tendem sempre a pensar que o problema está nos outros, mas às vezes o problema está em nós. Este disco alerta para isso.











Reportagem por Miguel Azevedo

Retirado de...

http://www.vidas.correiodamanha.pt/noticiaComentar.aspx?channelid=B084AE37-6177-48AB-AEDA-956F51C029B5&contentid=6AEB0397-81AC-4216-8A1C-7F120627ACBB



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